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É UMA MENINA!

      “- É uma menina!” Disse o médico todo sorridente que não podia supor o porquê do sorriso daquela mãe ter desaparecido. Não! Ela não preferia um menino. Apenas resolvera com qual dor lidar quando fosse o momento.      O sorriso já havia desaparecido no instante que soube que estava grávida. Não deixava de pensar que talvez tenha sido muito irresponsável da parte dela trazer uma vida a esse mundo. Afinal, quem em sã consciência permite que uma criança negra venha a esse mundo, o SEU mundo, que a cada dia se mostra mais cruel com os seus. Mas, resolvera ir até o fim com a gestação.      “- Prefere menino ou menina?” Era o que sempre lhe perguntavam. Essa era outra dor que deixaria pra quando fosse o momento. Lidaria com uma dor por vez, assim esperava. Por hora, precisava lidar com o fato de ela mesma ser uma mulher grávida nesse mesmo mundo de horrores no qual ela gerava uma vida... “que terá que tipo de vida?”      “- Amor, você não está feliz?” Estava, em partes, pois,
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Agressivo? A partir de qual ponto de vista?

  Queria me abster e deixar passar como tantos outros assuntos? Queria. Mas, tem coisa que bate de um jeito, ativa uns gatilhos brabos, que se eu não colocar pra fora me sufoca... Já tenho coisa demais interiorizada que só hoje tenho maturidade para entender, mas, que ainda me machuca muito, embora eu tenha aprendido a lidar com muitas delas. Portanto, não vou guardar nada, não!   Mas, como bem disse o Emicida "a dor dos judeus choca, a nossa gera piada", e, graças aos céus nem todo mundo está deixando passar esse tipo de piada, ou falas atravessadas, que depois tentam ser consertadas com "eu não tive intenção, não foi bem assim", acompanhado de nota de "retratação". Estão  chocados porque houve "reação", e não, com o fato de já ter passado da hora de repensar esse "entretenimento" que ofende, machuca, humilha, destrói.  Estão chocados porque não estamos no lugar que nos colocaram de "submissos". Est ão chocados porque a r

PRIMOGÊNITOS

  Disseram-lhe, “agora é o mais velho”, e seus ombros juvenis ganharam um peso que ainda nem sabia mensurar. “Você tem que cuidar do seu irmão”. “Meu irmão... mas se parece com um bebê. Não seria essa a responsabilidade dos pais? Cuidar do bebê? Cuidar de mim?” Disseram-lhe, e ali, na fala, na responsabilidade trazida por uma função não pleiteada, criou-se um criança/adulto. Um cargo de primogênitos mas, às vezes, requerido por algum outro irmão. Disseram-lhe, então, mesmo sem saber como, exerce essa tarefa. Numa jornada solitária, confusa, angustiante. Disseram-lhe quem era, muito antes de saber quem é. O quanto será ou não um problema? Pergunte ao tempo. Disseram-lhes... E muitos ainda estão, cuidando, zelando, responsáveis, se não pelo irmão, pelos pais, pelos tios, pelos avós. São quietos, preocupados, porém, sempre ali, aonde foram colocados, como guardiões. Um criança/adulto confuso, um adulto/criança perdido. Um primogênito a quem delegaram uma função. “Agora você é o ir

E DEPOIS?

Haverá espaço ou, até mesmo, querer, pós tantos acontecimentos contidos num curto espaço-tempo? Depois de tanta ausência física?... Como se (re)encontrar depois do tanto que se perdeu? Depois que o oculto foi revelado? As máscaras realmente cairão? Será possível se reconhecer, permitir-se ver fora do chamado virtual? Se já não sabíamos quem éramos, como saber agora? Agora... Como se parecerá o "novo normal"? Empoeirado. Mofado. Destelhado. Vazio. O que restará dentro? Algo permanecerá inteiro ou, com pedaços que lembrem o que um dia foi? Algo passível de ser reconectado? Teremos tato para voltarmos a sermos palpáveis? Abraços. Apertos. Aproximação. Com que olhar enxergaremos o outro, agora que o lemos digitalmente, remotamente, visto por último... Como recolocar no lugar as coisas que vieram pra dentro sem nem pedir licença? Precisaremos de adaptação para ser o que um dia fôramos, mesmo agora, que já não somos os de outrora? Seremos (re)configurados? O que restará para reform

SE ATRAVESSA O CAOS?

  “ Como atravessar o caos e permanecer humano? ” Li em algum lugar, não vou precisar aonde, e nem, de quem... Pois, eu tenho lido. Tentativa de fuga? Ou munição?   Beiramos o meio milhão de mortos... Nos tornamos o balanço negativo de uma planilha estatística. E o abismo-caos-poço não tem fim. Estamos em queda livre num sonho do qual não se acorda porque, adivinhem só, não estamos dormindo. Apenas peões dispostos no tabuleiro vendo as peças caírem uma a uma “ do pó viestes, ao pé retornarás ”.   O que dói? Saber que uma única escolha poderia ter nos dado uma narrativa diferente de boa parte dessa história confusa e cruel da qual sofremos enquanto personagens em clausura.   Distanciamento, máscara e álcool em gel. Um contra todos e, boa parte do todo, contra um... Quiséramos que o nosso maior mal fosse o vírus!   Curioso como da vista da janela, a vida segue seu curso normal. Pessoas, carros, reuniões, aglomerações, multidões... “ Arraste ” para ver mais. O círculo ver

DESASTRE NATURAL

Estamos em meio a uma onda que não se pula, e nem se surfa. Bem semelhante a um tsunami. Perdemos as contas dos dias que acreditávamos ser finais. Ingenuamente, dizíamos: “novo normal”. Esperança... O que esperávamos? O que ainda esperamos? A cura!? Um milagre!? Quem sabe somente respeito pela vida, pelas milhões de vidas. Parar a morte... Parar a fome... Fechar os olhos e quando abrir, ver que a tempestade passou. Que o pesadelo não pode te alcançar, agora que seus olhos estão abertos. Aquele chacoalhar que te desperta, acompanhado de um “estou aqui”.   Não há abraços... Não há voz... Não há despedida...   Esse pesadelo já passou de trilogia. Já é muito mais do que uma sequência ruim. E foi filmado em 3D. Batem na porta, e ninguém atende. Os corpos vão chegando, vão chegando, vão chegando... E são deixados na calçada. Estamos lotados. Não há vagas.   Um grito abafado. Outra pá cheia de terra. - Por favor, um prato de comida!   Festa, festa, e mais fes

COMO É NÃO SE IMPORTAR?

Tenho evitado pensar para não ser avassalada pelas palavras, pelos pensamentos que não permitem que os olhos se fechem, mas, cada pro-nun-ci-a-men-to reflete a dor da facada que não sangrou... Como se calar diante de tantas palavras e inações que “fingem” serem sem propósito. Propósito há, mas não é em prol do bem, e nem de mim ou de você. “E daí?” Não assumir um lado ou crer que só há um lado que reflita o “bem maior”, tem superado o que creiamos ser o fundo do poço. O “eu avisei” deu lugar ao “a culpa é sua”, sim, porque a escolha foi consciente. Queriam alguém que desse vazão aos seus monstros. Queriam e querem muitos dos nossos mortos. E estamos morrendo... Mas, nem imaginam quão fortes os que sobreviverem serão. “Vocês vão ficar chorando até quando?” Quase 300 mil mortos (SÓ por Covid) e nossa dor, como sempre, é resumida a mi mi mi. E há os que defendem o indefensável. Como coloca a cabeça no travesseiro e dorme? Eu estou a meses sem dormir. De mãos atadas. Contando os corpos