“- É uma menina!” Disse o médico todo sorridente que não podia supor o porquê do sorriso daquela mãe ter desaparecido. Não! Ela não preferia um menino. Apenas resolvera com qual dor lidar quando fosse o momento.
O
sorriso já havia desaparecido no instante que soube que estava grávida. Não
deixava de pensar que talvez tenha sido muito irresponsável da parte dela
trazer uma vida a esse mundo. Afinal, quem em sã consciência permite que uma
criança negra venha a esse mundo, o SEU mundo, que a cada dia se mostra mais
cruel com os seus. Mas, resolvera ir até o fim com a gestação.
“-
Prefere menino ou menina?” Era o que sempre lhe perguntavam.
Essa
era outra dor que deixaria pra quando fosse o momento. Lidaria com uma dor por
vez, assim esperava. Por hora, precisava lidar com o fato de ela mesma ser uma
mulher grávida nesse mesmo mundo de horrores no qual ela gerava uma vida... “que
terá que tipo de vida?”
“-
Amor, você não está feliz?”
Estava,
em partes, pois, já nutria todo tipo de situações possíveis que nunca mais a
permitiriam dormir.
Olhou
para o rosto reluzente do seu acompanhante e pôde ver que ele não compartilhava
de seus medos... Olhou para o televisor do outro lado do corredor e viu a
notícia do estuprador na sala de parto...
“-
É uma menina!’
Silenciosamente,
ela chorou.
Milene
Paula
Que mundo é esse.
ResponderExcluir