Queria me abster e deixar passar como tantos outros assuntos? Queria. Mas, tem coisa que bate de um jeito, ativa uns gatilhos brabos, que se eu não colocar pra fora me sufoca... Já tenho coisa demais interiorizada que só hoje tenho maturidade para entender, mas, que ainda me machuca muito, embora eu tenha aprendido a lidar com muitas delas. Portanto, não vou guardar nada, não!
Mas, como bem disse o Emicida "a dor dos judeus choca, a nossa gera piada", e, graças aos céus nem todo mundo está deixando passar esse tipo de piada, ou falas atravessadas, que depois tentam ser consertadas com "eu não tive intenção, não foi bem assim", acompanhado de nota de "retratação". Estão chocados porque houve "reação", e não, com o fato de já ter passado da hora de repensar esse "entretenimento" que ofende, machuca, humilha, destrói. Estão chocados porque não estamos no lugar que nos colocaram de "submissos". Estão chocados porque a reação foi tão violenta quanto a recebida em palavras, mas, tudo bem quando a reação é se isolar e mesmo tirar a própria vida, o que não pode é pagar na mesma moeda ou, se defender.
Tudo bem um vizinho atirar em você porque você te achou "suspeito". Tudo bem solicitar que um lanche não seja preparado por uma funcionária negra e lésbica, ou escolher a cor da pele do entregador. Tudo bem as balas perdidas só encontrarem em corpos negros. Tudo bem famílias inteiras estarem indo pra rua por não terem como pagar por uma moradia ou alimento, e o noticiário ensinar como "economizar". Tudo bem uma menina ser impedida de frequentar as aulas porque o cabelo dela não está "adequado" a etiqueta da escola. Tudo bem, né? Imagina essa galera reagindo, e com toda razão, a violência que sofre todos os dias. O tapa é uma reação a todo um contexto, e não apenas a "piada", conseguem entender?
É fácil julgar a ação "exagerada" quando não é você quem sofre microagressões diárias. Que tem suas dores reduzidas a mi mi mi. Quando não são suas filhas/mães/mulheres que não se aceitam como são por não serem "padrão", se mutilando para caber no mundo que nos subjulga. Julgar é super fácil, a gente julga o tempo todo, mas, se colocar no lugar do outro, e tentar entender o que o levou até esse ápice, é que é um exercício diário de empatia.
Eu nunca entendi, nem quero entender, esse "humor" que se firma diminuindo algo ou alguém. Sempre achei essas apresentações das premiações ofensivas, pensava que era um tipo de humor dos norte-americanos, mas descobri que não é um mal gosto exclusivo dos nossos vizinhos. Deixaram com que eles se sentissem confortáveis "zoando" os outros, e agora soa "agressivo" dizer-lhes que não é bem por aí, e que não, não é engraçado!
Vocês entendem que a gente está aqui, pastando nesse plano, para evoluir né? Minimamente, para evoluir. Enfim...
Cada um terá uma interpretação do ocorrido a depender das suas vivências pessoais, e do seu ciclo de convívio. Mas, percebam que esse tipo de "entretenimento" está com os dias contados, visto que sim, nós vamos começar a reagir cada vez mais. Porque estamos cansados, muito cansados. E só falar não tem surtido efeito. É agressivo, exagerado? É. Mas, palavras, olhares, humor barato, também é. E fere muito mais do que um tapa. São marcas que não temos como apagar. E, como ninguém vê, não sabem o quanto foi agressivo.
MP 28 mar. 2022
(Sobre o tapa do ator Will Smith no comediante e ator Chris Rock na cerimônia do Oscar 2022)
Parabéns pelo texto. Já passou da hora de dar um basta. Apoio total ao Will. E o recado está dado: tolerância zero ao racismo e tanta humilhação.
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