Meus textos andam meio “desabafos”
e eu desgosto até a página 2 desta constatação.
Existem assuntos difíceis, e
existe a necessidade de se expelir o que lhe incomoda. Assim como no nosso
organismo, um corpo estranho é repelido, bloqueado, inutilizado.
Meus textos não são raciais.
E não se pressupõe, por um texto, a qual “raça” pertença seu escritor. Mas, o
teor do desabafo faz com que se necessite dizer, jogar pra fora.
- Sou negra.
(e ser negra não (d)(es)gosta,
também, até a página 2)
Muitos acreditam que o
preconceito racial está findo, diminuído, arquivado. Parafraseando a
virtualidade – “só que não”. Faz-se parecer tão sutil que fica fácil acreditar.
Alguns textos saem porque martelam
tanto na mente, tanto...
Alguns textos saem porque o
peito fica pequeno e a mente se perde em devaneios “down”. E fechar-se em feto
não é a solução.
Se ponho-me ao vômito muito
já degustei sem sabor...
Ver de fora sempre foi mais
simples. As pessoas olham e apontam as “correções/soluções” dos ditos problemas
(in)significantes.
Andam tão vazios de
significados... (as pessoas, o mundo). Como podem significar o que vai ao peito
do outro. Na alma do outro. Não conhece a história alheia, portanto, não aponte
nada.
Eu fiz uma escolha. E
escolhas cobram-lhe consequências.
E eu não escolhi me submeter...
É difícil? Nunca me falaram
o contrário. Mas, a pele preta marca.
Serei a colega, a amiga, a
amante, a conselheira, porém, dificilmente, segurarão na minha mão e dar-me-ão algum
outro significado.
Nasci menina mulher da pele
preta (clichê?), talvez. Não estou onde estou por nada. Não sou como sou por
nada. Não me fecho ao riso por sua indireta camuflada em piada inofensiva, por
nada.
Algumas vezes vai me ver triste, abatida e cansada. Mas
não suponha que perdi ou, que venceu. Estou apenas me “(re)configurando” às
novas batalhas.
Quando me disserem: “você
está sozinha porque quer...”, provavelmente eu responda: “Sim. Eu fiz uma
escolha”. Escolhi não me curvar à sociedade. Escolhi trilhar minha própria
história. O caminho é solitário? Não. O caminho é um caminho. Deseja-se chegar.
Só não se sabe se alguém é capacitado a batalhar comigo.
Milene Paula
12 ago. 2014
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