Pular para o conteúdo principal

PRIMOGÊNITOS


 

Disseram-lhe, “agora é o mais velho”, e seus ombros juvenis ganharam um peso que ainda nem sabia mensurar. “Você tem que cuidar do seu irmão”. “Meu irmão... mas se parece com um bebê. Não seria essa a responsabilidade dos pais? Cuidar do bebê? Cuidar de mim?”

Disseram-lhe, e ali, na fala, na responsabilidade trazida por uma função não pleiteada, criou-se um criança/adulto. Um cargo de primogênitos mas, às vezes, requerido por algum outro irmão.

Disseram-lhe, então, mesmo sem saber como, exerce essa tarefa. Numa jornada solitária, confusa, angustiante.

Disseram-lhe quem era, muito antes de saber quem é. O quanto será ou não um problema? Pergunte ao tempo.

Disseram-lhes... E muitos ainda estão, cuidando, zelando, responsáveis, se não pelo irmão, pelos pais, pelos tios, pelos avós. São quietos, preocupados, porém, sempre ali, aonde foram colocados, como guardiões. Um criança/adulto confuso, um adulto/criança perdido. Um primogênito a quem delegaram uma função. “Agora você é o irmão mais velho”, disseram-lhe, e ainda olha o outro sem entender o porquê um outro lhe foi dado aos cuidados.

Disseram-lhe... Repara bem e o irá reconhecer.

 

M.P.

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

SERVIR E PROTEGER

De onde eu vim os “super heróis” não chegam. Por aqui, é um por todos e, todos por um, e o UM e o TODOS sabem que a “bala perdida” tem o nosso endereço. Somos nós que baixamos o olhar e dizemos “sim, senhor... não, senhor”, que, só por termos “a cor dos quatro Racionais”, somos os suspeitos. Errados pelo simples fato de existir. A cada dia um novo “caso isolado” é filmado... É possível nos ver morrendo pelo ângulo que você preferir. Mas, a ordem, ou melhor, o lema é “servir e proteger”. A quem? Porque, como eu disse, de onde eu vim, o grito de socorro é julgado. Para ser validado, é necessário estar em um certo lugar da cartela de cores. Mas, atirasse primeiro e elabora uma história depois. E o responsável é realocado até que a poeira baixe, afinal, ele está servindo e protegendo. Servindo um espetáculo aos que acreditam que a nossa vida nada vale, servindo mais um corpo preto no chão (talvez, a nova bandeja de prata). E protegendo todos aqueles coniventes com esse legado. “Ah mas,...

É UMA MENINA!

      “- É uma menina!” Disse o médico todo sorridente que não podia supor o porquê do sorriso daquela mãe ter desaparecido. Não! Ela não preferia um menino. Apenas resolvera com qual dor lidar quando fosse o momento.      O sorriso já havia desaparecido no instante que soube que estava grávida. Não deixava de pensar que talvez tenha sido muito irresponsável da parte dela trazer uma vida a esse mundo. Afinal, quem em sã consciência permite que uma criança negra venha a esse mundo, o SEU mundo, que a cada dia se mostra mais cruel com os seus. Mas, resolvera ir até o fim com a gestação.      “- Prefere menino ou menina?” Era o que sempre lhe perguntavam. Essa era outra dor que deixaria pra quando fosse o momento. Lidaria com uma dor por vez, assim esperava. Por hora, precisava lidar com o fato de ela mesma ser uma mulher grávida nesse mesmo mundo de horrores no qual ela gerava uma vida... “que terá que tipo de vida?”    ...

NARRATIVA PERDIDA

    Por muitas vezes eu não sei por onde começar. Não faço ideia de como as histórias começam, pois, quando a gente se dá conta, estamos totalmente envolvidos no enredo, independentemente de ser ou não a personagem principal.      Eu tenho feito parte de algumas histórias... E, não sei precisar em que momento saí de observadora, mera coadjuvante, para a personagem da qual exigem ação. Tenho decisões a tomar que redicionarão toda a trama. Quebra de padrão. Rompimento de ciclo. Revelação das faces por detrás das máscaras...    Será que eu pulei o prefácio?    Ou me perdi na eloquência do narrador?    Tudo o que sei (sei!?), não, não sei. Como desfaço?    Em pensamentos me perco. Mil vozes que não calo. Atrás de um desfecho de uma história que eu nem sei como começou, mas exige um ponto final.   Quiçá, eu não seja uma das personagens, e sim, apenas um autor perdido com a sua caneta na mão.   Q...