Pular para o conteúdo principal

O LADO B DA RELAÇÃO




Crescemos ouvindo: “... e foram felizes para sempre”. Mas, ninguém nos diz o que acontece quando o encanto acaba. Quando deixa de ser novidade, e nos encontramos nus (não de corpo), mas, de alma. Portanto, em vista disso, eu gostaria de falar aqui sobre o lado B da relação. Aqueles dias de mau humor, de querer ficar num canto na sua, o não querer dar o braço a torcer, quando as longas conversas se tornam apenas algumas frases, ou mesmo sílabas soltas. Quando você para e pensa: “será que vale mesmo a pena?” “Até que ponto é cuidado, resiliência?” “Até que ponto é comodismo?” “Medo de ficar sozinho?” Por que não se diz o que acontece depois, quando, claramente, não é um conto de fadas? Os opostos não se atraem! Cada ser é único. Completo. E tudo o que ele quer é partilhar. Doar um pouco de si. Ensinar e aprender com o outro. Lindo, né? Não é! Você só acessa o outro o quanto ele permite. O quanto ele quiser que você saiba e/ou conheça. E aí está o lance. Relação é estar disposto. E, nem todos os dias você está. E nem sempre isso é entendido, compreendido, por ambas as partes. E tudo bem, às vezes, sei lá. Mas, tem o "bendito" viveram felizes para sempre. E a gente acha que está tudo errado. Que fizemos algo errado. Que "tem" que durar pra sempre. Pra sempre de quem? Quanto tempo dura um pra sempre? Precisamos revalidar alguns conceitos, sabe. Pra sempre pode ser o tempo que durou o encanto. Pra sempre pode ser a duração de um sorriso. Pra sempre pode ser uma noite juntos de sono. Pra sempre pode ser uma lembrança boa. Pra sempre pode ser um toque... Eu não sei! O tempo irá dizer. O tempo que você se dispõe a ceder, doar, permitir ao outro te conhecer. O tempo que você dispõe ao cuidado daquilo que em algum momento você pediu pra si. Não está sendo um musical da Disney? Já avaliou seu peso à história? Figurante, coadjuvante, ou ator principal? Quem está narrando? Ou melhor, quem escreveu? Você, não é! Tudo esquematizado aí na sua cabeça. Só que as personagens tem cada uma a sua própria história. Pessoas não seguem roteiros. Romances não são conto de fadas. Na verdade, as relações na nossa vida são lições evolutivas. Iniciamos com nossos pais, temos (algumas pessoas) períodos sozinhos, e aí, cismamos de nós relacionar (viver a dois). Etapas evolutivas,  ou ritos de passagem, como preferir. E, por que alguém escreve que é lindo e eterno, ficamos tentando caber nisso. E não é assim! Relação é hard core, lado B, só pros dispostos, não se iluda! Precisa vivenciar pra saber. Felizes para sempre é muito mais que uma frase pronta de efeito. Felizes para sempre se constrói, dia a dia, porque nem todos os dias são bons, e, geralmente, são esses que vão determinar se vale a pena. Qual o tamanho do para sempre, entende? Não tem príncipe encantado, fada madrinha, e muito menos princesa precisando ser salva. É só você e o outro, ali, nus, se descobrindo juntos, e evoluindo individualmente (pois, cada processo é único). Não é mágico. É gradativo. Às vezes, cansa, magoa, e não  faz sentido. Faz parte. Não sabe, não tem certeza, pergunta! Dialogue. Todos os dias são um novo dia. Rito de passagem, lembra? Estamos aprendendo a viver junto. Não é da noite pro dia, e nem até a meia noite. Tentativa e erro. Muito além de uma frase de efeito de algum livro infantil. Somos muito mais. Precisamos de cultivo. Estar junto pode ser lindo, se assim você se dispuser a ser – lindo. Mas, não espere que todos os dias sejam floridos, pois, eles não são. Muitas vezes "relação" vai ser uma luta de ego, e é muito difícil se tornar resoluto e evoluído, pois, você se descobre falho aonde achava ter razão. Você leva um "tempão" se construindo pra, de repente, aprender também a partilhar (embora tentem nos ensinar na infância, muitas vezes a gente só finge que aprendeu). E a vida vem e esfrega na sua cara que você não pode pular etapas, lições devem ser aprendidas, para que você possa ser gente. Relação te desnuda. E estar disposto a ver o melhor e o pior do outro, e ainda ter que lidar com o seu melhor e o seu pior, não é tarefa pra amador, meu filho. Prestou atenção? Relação é lado B total.

M.P. 11 mai.2020

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

SERVIR E PROTEGER

De onde eu vim os “super heróis” não chegam. Por aqui, é um por todos e, todos por um, e o UM e o TODOS sabem que a “bala perdida” tem o nosso endereço. Somos nós que baixamos o olhar e dizemos “sim, senhor... não, senhor”, que, só por termos “a cor dos quatro Racionais”, somos os suspeitos. Errados pelo simples fato de existir. A cada dia um novo “caso isolado” é filmado... É possível nos ver morrendo pelo ângulo que você preferir. Mas, a ordem, ou melhor, o lema é “servir e proteger”. A quem? Porque, como eu disse, de onde eu vim, o grito de socorro é julgado. Para ser validado, é necessário estar em um certo lugar da cartela de cores. Mas, atirasse primeiro e elabora uma história depois. E o responsável é realocado até que a poeira baixe, afinal, ele está servindo e protegendo. Servindo um espetáculo aos que acreditam que a nossa vida nada vale, servindo mais um corpo preto no chão (talvez, a nova bandeja de prata). E protegendo todos aqueles coniventes com esse legado. “Ah mas,...

GATILHO

Eu nem sei por onde começar Eu nem sei ao certo quais palavras escolher Pois, elas precisam ser escolhidas com muito cuidado Para que a mensagem chegue Mesmo que a uma minoria É preciso que chegue tanto de forma direta Quanto nas entrelinhas   “CLICK, CLACK”   Talvez, a gente deva começar pelo fato de “MENINOS” cometerem atrocidades Enquanto, “MULHERES” devem ser mãe aos 10, 13 anos E, que se cogita a hipótese dessas mesmas “MULHERES” Serem presas por não gestar “FRUTOS” da violência   “CLICK, CLACK”   Ou talvez, devamos falar sobre as vestimentas Afinal, não se pode sair por aí provocando os expectadores Não importa você tenha 10 ou 80 anos Com muita ou pouca pele exposta Acordada, sedada, com alguma deficiência... “Nossa! Mulheres preferem encontrar com um urso na floresta, ao invés, de um “homem””   “CLICK, CLACK”   Monogâmico, não monogâmico Relacionamento aberto, relacionamento sério Ficantes,...

É UMA MENINA!

      “- É uma menina!” Disse o médico todo sorridente que não podia supor o porquê do sorriso daquela mãe ter desaparecido. Não! Ela não preferia um menino. Apenas resolvera com qual dor lidar quando fosse o momento.      O sorriso já havia desaparecido no instante que soube que estava grávida. Não deixava de pensar que talvez tenha sido muito irresponsável da parte dela trazer uma vida a esse mundo. Afinal, quem em sã consciência permite que uma criança negra venha a esse mundo, o SEU mundo, que a cada dia se mostra mais cruel com os seus. Mas, resolvera ir até o fim com a gestação.      “- Prefere menino ou menina?” Era o que sempre lhe perguntavam. Essa era outra dor que deixaria pra quando fosse o momento. Lidaria com uma dor por vez, assim esperava. Por hora, precisava lidar com o fato de ela mesma ser uma mulher grávida nesse mesmo mundo de horrores no qual ela gerava uma vida... “que terá que tipo de vida?”    ...