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Eles não terminam comigo (nunca sei quando é o fim)


Corria, pois, já era avançada a hora. Porém, o bilhete numerado em sua mão lhe garantiria um lugar. Chegara. Sem muita dificuldade encontrou seu aconchegante assento. Ficara entre pessoas interessantes e, por ainda restarem minutos, conversou, conheceu, se encantou... Os três sinais soados pediam silêncio. Os três sinais soados diminuíam a luz. Os três sinais soados davam permissão de ver além das cortinas. Iniciou-se o espetáculo. Durante uma hora, uma hora e meia, esteve ali, envolvida. Aí então, o bailarino veio até a beira do palco, olhou diretamente para ela, e sorriu. Não reverenciou, a música não parou, a luz não se apagou... Veio a beira, olhou, e sorriu. Feito isto, as cortinas fecharam-se num baque, e a luz se acendeu. Não houve aplausos. Estava ali sozinha. Ninguém lhe disse adeus... Mal refeita, as luzes começaram a se apagar, uma a uma, indicando que já não era bem vinda. Hora de sair. Fim. Sem maiores explicações.


Milene Paula

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